Sistemas agroflorestais de cultivo e pousio : etnoconhecimento de agricultores familiares do lago do Paru (Manacapuru, AM) / Elisabete Brocki.

Tese (doutor) - INPA/UFAM, 2001

A identificação do conteúdo do etnoconhecimento que deu ênfase ao manejo da sucessão da vegetação em sistemas agroflorestais de cultivo e pousio foi objetivada em áreas de agricultura familiar no Lago do Paru (3º17' S e 60°32' WW), no município de Manacapuru, Estado do Amazonas, Brasil. O estudo das interações entre os seres humanos e o ambiente natural, incluindo plantas, animais e solos, entre outros, denomina-se etnoecologia que enfatiza a noção de que o manejo de ecossistemas implica na relação do conhecimento entre as populações e seu ambiente, através de processo adaptativos pelos quais passam as populações humanas, baseado nas experiências passadas. Estas manifestam-se nas formas de produção utilizadas por agricultores familiares tradicionais que têm permitido o atendimento das necessidades básicas das populações humanas sob condições ambientais adversas. A abordagem sistêmica aliada aos conceitos de natureza híbrida, topofilia e ferramentas da pesquisa etnoecológia e etnográfica foi empregada em sistemas agroflorestais de cultivo e pousio. A partir da percepção dos agricultores familiares sobre as unidades de paisagem de terra firme e de suas percepções dos processos de mudanças na composição florística, realizou-se estudo de caso da composição e estrutura da vegetação e da fertilidade dos solos nas categorias de sucessão para avaliar os critérios de decisão na conversão das capoeiras. Constatou-se que os agricultores familiares demonstram conhecimento consistente do ambiente físico, tendo com pano de fundo as relações amistosas de parentesco e compadrio que se constituem na organização social e econômica para a produção e reprodução familiar. O sistema agroflorestal de produção e pousio em terra firme tem como componentes sítio, roças capoeiras e matas, apresentando-se em forma de mosaico nas propriedades. Nas roças predomina o cultivo da mandioca (Manihot esculenta Crantz) com práticas que favorecem à diversidade intraespecífica e interespecífica. As capoeiras são percebidas em dois estágios dicotômicos: capoeiras novas e capoeiras maduras, constituindo-se reservas em desenvolvimento, observadas quando estão "maduras" ao ponto de poderem ser convertidas em roças. São percebidas como fonte de alimento e abrigo para a fauna e importantes na dieta e complentação da renda familiar. As capoeiras e matas não apresentam dimensão amorfa, sendo lugares aos quais os agricultores familiares atribuem valores e manejam, sendo essenciais para subsistência e reprodução da agricultura familiar de baixos insumos.

Área de concentração: Botânica.