Ecologia de três espécies do gênero Brycon Müller & Troschel, 1844 (Pisces - Characidae), no Rio Negro, Amazonas, com ênfase na caracterização taxonômica e alimentação /
Guilherme Augusto Borges.
- Manaus [s.n.] 1986.
- 150 f. : il.
Dissertação
O presente estudo teve como objetivos principais: 1) A caracterização taxonômica e distribuição geográfica das espécies de Brycon do sistema do Rio Negro; 2) O estudo da ecologia e hábitos alimentares nos diferentes habitats; 3) As relações entre as espécies com a floresta alagada - oferta alimentar de fontes autóctones e/ou alóctones x interações de predação e dispersão de sementes, e 4) Descrição do padrão geral da migração trófica e ciclo de vida das espécies estudadas. Foram feitas coletas sistemáticas mensais no arquipélago de Anavilhanas - rio Negro no período de março de 1980 a junho de 1982. Exemplares jovens foram coletados no baixo rio Solimões - Ilha da Marchantaria, no período de março a setembro de 1981 compreendendo os ciclos de enchente e vazante para o ano em questão. Para o estudo de distribuição, foram feitas 4 excursões na bacia do rio Negro. Para efeito do estudo da sazonalidade alimentar, os locais de coletas ao longo da bacia do rio Negro foram divididos em 9 diferentes biótopos. Conteúdos estomacais de adultos e jovens das espécies migradoras foram analisados pelos métodos de frequência de ocorrência e pontos. Os graus de repleção estomacal para essas espécies foram considerados. Verificou-se a ocorrência de 4 espécies do gênero Brycon: cf. erythropterum, cf. cephalus, falcatus e pesu. Devido aos problemas taxonômicos encontradoos para três primeiras espécies, uma chave diferencial foi elaborada com subsequente redescrição de cada. A dieta das 3 espécies é bastante diversificada, sem grandes diferenças em relação aos habitats estudados. Encontou-se um total de 12 grupos de ítens alimentares, dos quais frutos, sementes e artrópodos foram os mais representativos tanto no período da cheia, como no da seca, com um total de 19 famílias de plantas (42 espécies) e 17 ordens de artrópodos. No entanto, no período das cheias, frutos e sementes foram mais significantes, enquanto que nas épocas secas, artrópodos foram mais significantes. Registrou-se um total de 59 interações (predação e/ou dispersão) entre Brycon e os frutos consumidos, contudo as interações do tipo dispersão predominaram. Os dados indicam que as espécies de Brycon estudadas apresentaram uma maior preferência pelas sementes capsuladas e polpas de drupas. Os graus médios de repleção estomacal indicaram que o período de inundação foi a fase com maior disponibilidade de recursos alóctones para os adultos, enquanto que no período seco, foi a fase de maior carência alimentar, sendo artrópodos terrestres o item mais consumido. Para os jovens as áreas inundadas também foram importantes, sendo observado que a ingestão de alimento foi igualmente intensa durante os dois períodos, independentemente dos biótopos explorados. Finalizando, no que diz respeito à interação Brycon - floresta alagada, podemos concluir que as espécies são generalistas, com alto grau de oportunismo, consumindo material alóctone proveniente da planície inundada em todas as fases do desenvolvimento. No entanto, pode-se observar, que os adultos são dependentes das matas alagadas do sistema rio Negro (igapós), enquanto que os jovens nos primeiros meses de vida, estão associados ao sistema Solimões - Amazonas ( várzeas ). Em relação à distribuição, Brycon cf. erythropterum, B. cf. cephalus, B. falcatus e B. pesu são simpátricas e sintópicas no baixo rio Negro, enquanto que no alto rio Negro verificou-se apenas a ocorrência em simpatria e sintopia de B. falcatus e B. pesu, não sendo encontradas as outras duas espécies.