Interação dos golfinhos da Amazônia com a pesca no Médio Solimões / Sannie Muniz Brum.

Por: Brum, Sannie MunizColaborador(es):Silva, Vera Maria Ferreira da [Orientadora]Detalhes da publicação: Manaus: [s.n.], 2011Notas: xvii, 112 f. : il. colorAssunto(s): Boto (mamífero aquático) -- Captura | Boto (mamífero aquático) -- Ecologia | Boto (mamífero aquático) -- Conservação | Boto (mamífero aquático) -- Populações | Piracatinga -- PescaClassificação Decimal de Dewey: 599.53045 Recursos online: Clique aqui para acessar online Nota de dissertação: Dissertação (mestre) - Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia - INPA, 2011 Sumário: Os golfinhos da Amazônia foram, durante muitos anos, protegidos por lendas e superstições. No entanto, com a popularização das redes e a exploração de novos recursos pesqueiros, os conflitos com as atividades de pesca têm sido crescentes. Os golfinhos da Amazônia no Médio Solimões (Tefé, AM e arredores) estão ameaçados por duas principais fontes antrópicas: a mortalidade acidental decorrente de interações operacionais com atividades de pesca e a captura para utilização, principalmente do boto-vermelho, como isca para a pesca da piracatinga. Apesar de não haver evidências de que esses golfinhos estejam ameaçados em toda sua distribuição, muitos impactos antrópicos podem ameaçar populações locais. As populações dos golfinhos da Amazônia no Médio Solimões enfrentam reduções, provavelmente devido aos impactos causados pelas atividades de pesca e, apesar da dificuldade de se determinar níveis seguros para declínio de uma população, o limite de mortalidade (ML) aplicado neste estudo pode ser uma ferramenta muito útil no manejo dessas populações. O objetivo deste trabalho foi descrever a interação do boto-vermelho e do tucuxi com a pesca na região e possíveis implicações para sua conservação. Entre os meses de fevereiro a dezembro de 2010 foram entrevistados 180 pescadores por meio de questionários mistos; acompanhadas 432 atividades de pesca nas cidades de Tefé, Alvarães e Uarini e comunidades próximas por meio de entrevistas de desembarque e atividades de embarque; entrevistados 17 pescadores de piracatinga e levantadas produções pesqueiras de sete frigoríficos. As tramalhas são os apetrechos mais utilizados e há supremacia da utilização de redes de cerco e de emalhar. Segundo os pescadores, são frequentes as interações com botos-vermelhos, jacarés, ariranhas e tucuxis, sendo o boto-vermelho muito comum. Em 90,28% das atividades de pesca monitoradas houve interação operacional com alguma espécie que não a espécie-alvo. Interações com os golfinhos ocorreram em 78,47% das atividades com diferença quanto às duas espécies, sendo as interações com botos-vermelhos muito mais frequentes. Para esta espécie, a interação mais frequente foi "tocaia", com a tramalha. Observou-se também prevalência de interações negativas aos pescadores relacionadas às interações operacionais com os botos. As épocas de cheia e seca foram significativas quanto à ocorrência de interações operacionais e há também prevalência de interações em locais de águas calmas. Foram registrados 24 golfinhos envolvidos em interações negativas para os mesmos, sendo 21 botos-vermelhos e três tucuxis. Durante este estudo, foi estimado em 176 botos-vermelhos e 26 tucuxis o número total de golfinhos envolvidos em interações negativas. Os golfinhos não são consumidos ou têm partes utilizadas em superstições na região, sendo o uso do boto-vermelho como isca para a pesca da piracatinga a única utilização reportada. Pescadores de piracatinga entrevistados não identificam este pescado como principal espécie-alvo e sim uma alternativa de rápido retorno financeiro. O procedimento para essa pesca utiliza o artefato conhecido como "caixa". A isca utilizada pode ser carne de jacarés, botos ou vísceras de bagres, com preferência pelo boto-vermelho. São comuns relatos de pescadores já especializados na captura de botos ou jacarés para fornecimento de isca. A produção anual de piracatinga dos frigoríficos estabelecidos na região fica em torno de 420 toneladas. A produtividade da pesca da piracatinga é de cerca de 250 kg por pescador por hora de pescaria. Não foi evidenciado uso do tucuxi para esta atividade. Para a utilização do boto-vermelho, obtivemos razão de 1 kg de isca para 3,2 kg de pescado, estimando em 170 o número de botos mortos por ano para utilização como isca nesta região. A mortalidade foi estimada em 346 botos-vermelhos e 26 tucuxis mortos por ano em decorrência de interações com atividades de pesca e o limite de mortalidade estabelecido indicou como sustentável a mortalidade de apenas 48 botos-vermelhos e 43 tucuxis. Concluiu-se que os golfinhos da Amazônia interagem de maneira diferente com a pesca, tanto na visão dos pescadores quanto em interações operacionais, extremamente frequentes na região de estudo. Essa prevalência culmina nos conflitos observados entre pescadores e botos-vermelhos e deve estar contribuindo fortemente para a atual redução desta espécie na área de estudo. O boto-vermelho está seriamente ameaçado e medidas para sua conservação devem ser rápidas e decisivas.
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Dissertação T 599.53045 B893i (Percorrer estante(Abre abaixo)) Disponível 12-0589

Dissertação (mestre) - Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia - INPA, 2011

Os golfinhos da Amazônia foram, durante muitos anos, protegidos por lendas e superstições. No entanto, com a popularização das redes e a exploração de novos recursos pesqueiros, os conflitos com as atividades de pesca têm sido crescentes. Os golfinhos da Amazônia no Médio Solimões (Tefé, AM e arredores) estão ameaçados por duas principais fontes antrópicas: a mortalidade acidental decorrente de interações operacionais com atividades de pesca e a captura para utilização, principalmente do boto-vermelho, como isca para a pesca da piracatinga. Apesar de não haver evidências de que esses golfinhos estejam ameaçados em toda sua distribuição, muitos impactos antrópicos podem ameaçar populações locais. As populações dos golfinhos da Amazônia no Médio Solimões enfrentam reduções, provavelmente devido aos impactos causados pelas atividades de pesca e, apesar da dificuldade de se determinar níveis seguros para declínio de uma população, o limite de mortalidade (ML) aplicado neste estudo pode ser uma ferramenta muito útil no manejo dessas populações. O objetivo deste trabalho foi descrever a interação do boto-vermelho e do tucuxi com a pesca na região e possíveis implicações para sua conservação. Entre os meses de fevereiro a dezembro de 2010 foram entrevistados 180 pescadores por meio de questionários mistos; acompanhadas 432 atividades de pesca nas cidades de Tefé, Alvarães e Uarini e comunidades próximas por meio de entrevistas de desembarque e atividades de embarque; entrevistados 17 pescadores de piracatinga e levantadas produções pesqueiras de sete frigoríficos. As tramalhas são os apetrechos mais utilizados e há supremacia da utilização de redes de cerco e de emalhar. Segundo os pescadores, são frequentes as interações com botos-vermelhos, jacarés, ariranhas e tucuxis, sendo o boto-vermelho muito comum. Em 90,28% das atividades de pesca monitoradas houve interação operacional com alguma espécie que não a espécie-alvo. Interações com os golfinhos ocorreram em 78,47% das atividades com diferença quanto às duas espécies, sendo as interações com botos-vermelhos muito mais frequentes. Para esta espécie, a interação mais frequente foi "tocaia", com a tramalha. Observou-se também prevalência de interações negativas aos pescadores relacionadas às interações operacionais com os botos. As épocas de cheia e seca foram significativas quanto à ocorrência de interações operacionais e há também prevalência de interações em locais de águas calmas. Foram registrados 24 golfinhos envolvidos em interações negativas para os mesmos, sendo 21 botos-vermelhos e três tucuxis. Durante este estudo, foi estimado em 176 botos-vermelhos e 26 tucuxis o número total de golfinhos envolvidos em interações negativas. Os golfinhos não são consumidos ou têm partes utilizadas em superstições na região, sendo o uso do boto-vermelho como isca para a pesca da piracatinga a única utilização reportada. Pescadores de piracatinga entrevistados não identificam este pescado como principal espécie-alvo e sim uma alternativa de rápido retorno financeiro. O procedimento para essa pesca utiliza o artefato conhecido como "caixa". A isca utilizada pode ser carne de jacarés, botos ou vísceras de bagres, com preferência pelo boto-vermelho. São comuns relatos de pescadores já especializados na captura de botos ou jacarés para fornecimento de isca. A produção anual de piracatinga dos frigoríficos estabelecidos na região fica em torno de 420 toneladas. A produtividade da pesca da piracatinga é de cerca de 250 kg por pescador por hora de pescaria. Não foi evidenciado uso do tucuxi para esta atividade. Para a utilização do boto-vermelho, obtivemos razão de 1 kg de isca para 3,2 kg de pescado, estimando em 170 o número de botos mortos por ano para utilização como isca nesta região. A mortalidade foi estimada em 346 botos-vermelhos e 26 tucuxis mortos por ano em decorrência de interações com atividades de pesca e o limite de mortalidade estabelecido indicou como sustentável a mortalidade de apenas 48 botos-vermelhos e 43 tucuxis. Concluiu-se que os golfinhos da Amazônia interagem de maneira diferente com a pesca, tanto na visão dos pescadores quanto em interações operacionais, extremamente frequentes na região de estudo. Essa prevalência culmina nos conflitos observados entre pescadores e botos-vermelhos e deve estar contribuindo fortemente para a atual redução desta espécie na área de estudo. O boto-vermelho está seriamente ameaçado e medidas para sua conservação devem ser rápidas e decisivas.

Área de concentração: Biologia de Água Doce e Pesca Interior

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