Aspectos biológicos das Orchidaceae de uma campina da Amazônia Central / Pedro Ivo Soares Braga.

Por: Braga, Pedro Ivo SoaresColaborador(es):Prance, Ghillean T [Orientador]Detalhes da publicação: Manaus [s.n.] 1976Notas: 159 f. : ilAssunto(s): Orquídeas -- Amazônia | Reserva Biológica de Campina (AM)Classificação Decimal de Dewey: 584.15 Nota de dissertação: Dissertação (mestre) - INPA/UFAM, 1976 Sumário: Poucos trabalhos foram feitos sobre orquídeas da região amazônica (Pabst, 1967; Rodrigues, 1971; Dunsterville, 1972). Neste trabalho estudamos a taxonomia, distribuição geográfica, fenologia e biologia floral das Orchidaceae da Reserva Biológica de Campina, estrada Manaus-Caracaraí, Km 62. Apresentamos também uma tabela comparativa de todas as orquídeas já coletadas ou citadas das campinas da Amazônia Central. O motivo da escolha deste tipo de comunidade vegetacional para a nossa pesquisa, prendeu-se aos fatos de que nela existe uma grande quantidade de orquídeas e que por sua condição de estar cercada por todos os lados pela floresta de terra firme e sua área não ser muito extensa, facilitar o nosso estudo. Por outro lado ao se estudar a flora da região, não podemos deixar de levar em consideração as espécies destas comunidades, pois segundo estimativas de Pires (1974) as mesmas ocupam 1,73% da Amazônia Brasileira, enquanto que as matas de várzea e igapó ocupam 1,89% o que nos dá uma idéia da importância das campinas nesta grande região. O total de espécies para todas as campinas até então estudadas foi de 48 espécies e 24 gêneros. As campinas que apresentaram maior número de espécies foram justamente aquelas visitadas por nós. Concluímos disto que no futuro esta lista tende a aumentar. Encyclia fragrans (Sw. ) Lemée, mostrou-se a espécie mais freqüente. O número de endemismo foi muito pequeno (9,67%), sendo que apenas Bulbophyllum correae Pabst, Encyclia tarumana Schltr. e Maxillaria pauciflora Barb. Rodr. mostraram-se como características desta comunidade. Na Reserva Biológica de campina, onde concentramos os nossos estudos, obtivemos 31 espécies pertencentes a 17 gêneros. Quanto à sua distribuição geográfica, observarmos que a maioria apresentou amplo espectro de distribuição. Sobralia fragrans Lindl., pela primeira vez, foi coletada no Brasil. Bulbophyllum correae Pabst foi coletado pela primeira vez fora do local da descrição original e Ornithidium parviflorum (Poepp. & Endl.) Rchb.f. como nova para o Estado do Amazonas. Os espectros fenológicos das espécies da campina estudada foram bastante variáveis, estando dispersos pelos 12 meses do ano. Espécies do mesmo gênero tiveram o espectro fenológico igual ou não. Os meses de maior floração coincidiram com a estação mais chuvosa, de menor irradiação, insolação e temperatura. Na época menos chuvosa, antes da iniciação da brotação, ocorreu a temperatura mínima absoluta de 19.0°C, que pode ter servido para induzir as espécies que floresceram nos meses mais chuvosos. Fato comprovado, segundo Alvim (1960, 1964), é que o efeito estimulante das chuvas sobre o crescimento e a floração das plantas em geral se manifesta com maior intensidade após um período relativamente seco. Os meses de menor floração coincidiram com a estação menos chuvosa, de maior irradiação, insolação e temperatura. De todas as espécies floridas apenas Epidendrum huebneri Schltr. apresentou-se com flores durante o ano inteiro. Em relação ao desenvolvimento vegetativo não existiu uma diferença marcante entre as espécies que brotaram na estação menos e mais chuvosa. Apenas as espécies do gênero Catasetum perderam as folhas, e o fizeram na época menos chuvosa, provavelmente como um mecanismo de defesa contra a dissecação. A maioria das síndromes de polinização das plantas da Reserva Biológica mostraram-se adaptadas aos Hymenoptera; a seguir vieram os Lepidoptera, os Diptera e os Trochillidae. Estes dados, com pequenas variações, coincidiram com os apresentados por Dodson (1967). O horário de maior produção de odores ocorreu na parte da manhã, poucas espécies os produziram no período noturno, podendo-se dizer o mesmo das que o produziram no período da tarde. Apenas três espécies mostraram se inodoras. Estes horários de produção de odores estão intimamente relacionados com os polinizadores, pois, o odor constitui-se na forma primária de atração dos animais. O isolamento por odores seletivos, no caso das abelhas Euglossinae, poderá permitir especiação simpátrica, bastando para tal que ocorra mutações modificadoras do aroma ou que ocorra uma mudança na sensitividade por parte das abelhas (Dodson, 1975). Rodriguezia secunda H.B.K. foi anteriormente reportada como sendo polinizada por Trochillidae (Dodson, 1965a). Em nosso estudo observamos Heliconius hermanthena (Hewitson) (Lepidoptera) como o real polinizador na área. Analisando a síndrome floral desta espécie concluímos que a sua síndrome se enquadra para os dois tipos de polinizadores. Isto tem grande importância do ponto de vista evolucionário desta espécie, pois a população da campina encontra-se isolada das demais, permitindo assim, que no futuro ocorra especiação. Recorrendo aos nossos dados de polinização e frutificação, verificamos que a maioria das plantas necessitou de um agente polinizador para efetuar a polinização (96,77%) e apenas Epidendrum strobiliferum Rchb.f. mostrou-se autógamo. A média de polinização e frutificação revelou-se bastante significativa (0,49 e 0,52, respectivamente), uma vez que o número de sementes por cápsula nesta família é considerável. O fato de a média de frutificação ter sido maior que a de polinização, à primeira vista parece um contra-senso, mas não o é, pois a autogamia de Epidendrum strobiliferum Rchb.f. modificou o resultado numérico. Quanto à relação dos mecanismos de polinização e os agentes polinizadores notou-se a fixação dos polinários que lhes aderiram de maneira precisa na cabeça, ou no dorso, o que é de grande importância na manutenção da especificidade de polinização. Foi observada a visita de animais às flores, que não carrearam polinários ou então que o fizeram sem promover polinização.
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Dissertação (mestre) - INPA/UFAM, 1976

Poucos trabalhos foram feitos sobre orquídeas da região amazônica (Pabst, 1967; Rodrigues, 1971; Dunsterville, 1972). Neste trabalho estudamos a taxonomia, distribuição geográfica, fenologia e biologia floral das Orchidaceae da Reserva Biológica de Campina, estrada Manaus-Caracaraí, Km 62. Apresentamos também uma tabela comparativa de todas as orquídeas já coletadas ou citadas das campinas da Amazônia Central. O motivo da escolha deste tipo de comunidade vegetacional para a nossa pesquisa, prendeu-se aos fatos de que nela existe uma grande quantidade de orquídeas e que por sua condição de estar cercada por todos os lados pela floresta de terra firme e sua área não ser muito extensa, facilitar o nosso estudo. Por outro lado ao se estudar a flora da região, não podemos deixar de levar em consideração as espécies destas comunidades, pois segundo estimativas de Pires (1974) as mesmas ocupam 1,73% da Amazônia Brasileira, enquanto que as matas de várzea e igapó ocupam 1,89% o que nos dá uma idéia da importância das campinas nesta grande região. O total de espécies para todas as campinas até então estudadas foi de 48 espécies e 24 gêneros. As campinas que apresentaram maior número de espécies foram justamente aquelas visitadas por nós. Concluímos disto que no futuro esta lista tende a aumentar. Encyclia fragrans (Sw. ) Lemée, mostrou-se a espécie mais freqüente. O número de endemismo foi muito pequeno (9,67%), sendo que apenas Bulbophyllum correae Pabst, Encyclia tarumana Schltr. e Maxillaria pauciflora Barb. Rodr. mostraram-se como características desta comunidade. Na Reserva Biológica de campina, onde concentramos os nossos estudos, obtivemos 31 espécies pertencentes a 17 gêneros. Quanto à sua distribuição geográfica, observarmos que a maioria apresentou amplo espectro de distribuição. Sobralia fragrans Lindl., pela primeira vez, foi coletada no Brasil. Bulbophyllum correae Pabst foi coletado pela primeira vez fora do local da descrição original e Ornithidium parviflorum (Poepp. & Endl.) Rchb.f. como nova para o Estado do Amazonas. Os espectros fenológicos das espécies da campina estudada foram bastante variáveis, estando dispersos pelos 12 meses do ano. Espécies do mesmo gênero tiveram o espectro fenológico igual ou não. Os meses de maior floração coincidiram com a estação mais chuvosa, de menor irradiação, insolação e temperatura. Na época menos chuvosa, antes da iniciação da brotação, ocorreu a temperatura mínima absoluta de 19.0°C, que pode ter servido para induzir as espécies que floresceram nos meses mais chuvosos. Fato comprovado, segundo Alvim (1960, 1964), é que o efeito estimulante das chuvas sobre o crescimento e a floração das plantas em geral se manifesta com maior intensidade após um período relativamente seco. Os meses de menor floração coincidiram com a estação menos chuvosa, de maior irradiação, insolação e temperatura. De todas as espécies floridas apenas Epidendrum huebneri Schltr. apresentou-se com flores durante o ano inteiro. Em relação ao desenvolvimento vegetativo não existiu uma diferença marcante entre as espécies que brotaram na estação menos e mais chuvosa. Apenas as espécies do gênero Catasetum perderam as folhas, e o fizeram na época menos chuvosa, provavelmente como um mecanismo de defesa contra a dissecação. A maioria das síndromes de polinização das plantas da Reserva Biológica mostraram-se adaptadas aos Hymenoptera; a seguir vieram os Lepidoptera, os Diptera e os Trochillidae. Estes dados, com pequenas variações, coincidiram com os apresentados por Dodson (1967). O horário de maior produção de odores ocorreu na parte da manhã, poucas espécies os produziram no período noturno, podendo-se dizer o mesmo das que o produziram no período da tarde. Apenas três espécies mostraram se inodoras. Estes horários de produção de odores estão intimamente relacionados com os polinizadores, pois, o odor constitui-se na forma primária de atração dos animais. O isolamento por odores seletivos, no caso das abelhas Euglossinae, poderá permitir especiação simpátrica, bastando para tal que ocorra mutações modificadoras do aroma ou que ocorra uma mudança na sensitividade por parte das abelhas (Dodson, 1975). Rodriguezia secunda H.B.K. foi anteriormente reportada como sendo polinizada por Trochillidae (Dodson, 1965a). Em nosso estudo observamos Heliconius hermanthena (Hewitson) (Lepidoptera) como o real polinizador na área. Analisando a síndrome floral desta espécie concluímos que a sua síndrome se enquadra para os dois tipos de polinizadores. Isto tem grande importância do ponto de vista evolucionário desta espécie, pois a população da campina encontra-se isolada das demais, permitindo assim, que no futuro ocorra especiação. Recorrendo aos nossos dados de polinização e frutificação, verificamos que a maioria das plantas necessitou de um agente polinizador para efetuar a polinização (96,77%) e apenas Epidendrum strobiliferum Rchb.f. mostrou-se autógamo. A média de polinização e frutificação revelou-se bastante significativa (0,49 e 0,52, respectivamente), uma vez que o número de sementes por cápsula nesta família é considerável. O fato de a média de frutificação ter sido maior que a de polinização, à primeira vista parece um contra-senso, mas não o é, pois a autogamia de Epidendrum strobiliferum Rchb.f. modificou o resultado numérico. Quanto à relação dos mecanismos de polinização e os agentes polinizadores notou-se a fixação dos polinários que lhes aderiram de maneira precisa na cabeça, ou no dorso, o que é de grande importância na manutenção da especificidade de polinização. Foi observada a visita de animais às flores, que não carrearam polinários ou então que o fizeram sem promover polinização.

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