O Retorno das Ariranhas à Paisagem Baniwa / Natalia Camps Pimenta

Por: Pimenta, Natalia CampsColaborador(es):Barnett, Adrian P. A [Orientador] | Shepard Jr., Glenn Harvery [Coorientador]Detalhes da publicação: Manaus: [s.n.], 2016Notas: 78 f.: ilAssunto(s): Uso da fauna | Ecologia de populações | AriranhaClassificação Decimal de Dewey: 599.74447 Recursos online: Clique aqui para acessar online Nota de dissertação: Dissertação (mestre) - Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia - INPA, 2016 Sumário: A caça de animais silvestres para abastecer o comércio internacional de peles foi responsável pelo colapso de diversas populações de mamíferos e répteis da Amazônia. Entretanto, os impactos desta atividade tiveram efeitos distintos em cada espécie explorada, variando local e regionalmente de acordo com a intensidade de caça e a capacidade de resiliência da espécie. Cerca de vinte anos após a proibição do comércio de peles no Brasil, a ariranha, espécie mais impactada pelo comércio internacional, começou a mostrar sinais de recuperação populacional. Este fenômeno despertou o interesse dos índios Baniwa do médio rio Içana, com quem realizamos esta pesquisa. Este estudo está dividido em dois capítulos nos quais investigamos: I) os fatores históricos que influenciaram a variação espaço-temporal da exploração comercial no alto rio Negro, assim como a resposta de duas espécies aparentadas, lontras neotropicais e ariranhas, frente a caça comercial na região e II) identificamos os locais de refúgio das ariranhas durante o período de extinção local no médio rio Içana e os elementos da paisagem que estão permitindo a recolonização da área pela espécie. No capítulo I reconstruímos a história oral dos Baniwa através de entrevistas semiestruturadas acerca da caça comercial realizada em seu território, identificando técnicas de caça, fatores políticos e econômicos que influenciaram as flutuações na atividade comercial e nas populações de lontras e ariranhas na região, em contraste com as características biológicas de ambas as espécies. Também sistematizamos dados provenientes de documentos de comercialização de peles nos portos da região para avaliar a capacidade de resiliência de ambas as espécies à caça comercial comparando a variação do montante de peles comercializadas durante o século XX no alto rio Negro. A união das diferentes fontes utilizadas nos mostrou que após quase um século de intensa caça comercial no alto rio Negro características intrínsecas das espécies assim como diferentes intensidades e técnicas de caça atuaram conjuntamente para a persistência das populações de lontras e para a extinção local e regional das populações de ariranhas, iniciando pelas áreas mais próximas à Manaus até atingir o médio rio Içana. No capítulo II investigamos as percepções Baniwa acerca das ariranhas através de entrevistas semiestruturadas com auxílio de mapas de referência para detectar as flutuações populacionais da espécie nos lagos e igarapés do médio rio Içana desde o início da atividade de caça comercial na região até os dias atuais. Realizamos amostragens nos lagos e igarapés em busca de sinais diretos e indiretos da ocorrência da espécie, registramos cinco variáveis de microhabitat in situ e obtivemos cinco variáveis de paisagem através de imagem de satélite. Medimos as variáveis de paisagem dependentes de escala em buffers de 250m, 500m e 1000m para testarmos qual escala é a mais adequada para o estudo do uso do habitat pelas ariranhas. Após calcular a frequência de indícios em cada unidade amostral nós geramos modelos lineares generalizados para testar as variáveis preditoras. O modelo com as variáveis dependentes de escala indicou um padrão bimodal, mas a escala de 250m foi a que apresentou maior efeito na ocorrência de ariranhas. As variáveis de paisagem disponibilidade de habitat, forma e isolamento do corpo hídrico explicaram 61,86% da frequência de ariranhas no médio rio Içana, enquanto a única variável de micro-habitat profundidade, correlacionada à hidrografia, explicou 38,12% dos casos. Para os Baniwa as ariranhas são os pajés das águas, e se distribuem pelo ambiente aquático juntamente com os peixes. Através dessa percepção indígena sobre as ariranhas nós obtivemos a movimentação da espécie em diferentes escalas temporais, e identificamos as cabeceiras dos longos igarapés como as áreas de refúgio da espécie durante o período de extinção local no médio rio Içana. A partir das informações ambientais e históricas nós identificamos os igarapés, bem drenados e conectados a corpos hídricos adjacentes como áreas favoráveis para a ocorrência de ariranhas no médio rio Içana. Nosso trabalho evidencia a valiosa contribuição do conhecimento ecológico tradicional em preencher lacunas no conhecimento sobre espécies ameaçadas que não poderiam ser obtidas somente através das pesquisas ecológicas convencionais, auxiliando a compreensão de processos ecológicos de longa duração com implicações para a conservação dessas espécies e do ecossistema que ela ocupa.
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Livro Livro Biblioteca INPA
Dissertação T 599.74447 P644 (Percorrer estante(Abre abaixo)) Disponível 2017-0074

Dissertação (mestre) - Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia - INPA, 2016

A caça de animais silvestres para abastecer o comércio internacional de peles foi responsável pelo colapso de diversas populações de mamíferos e répteis da Amazônia. Entretanto, os impactos desta atividade tiveram efeitos distintos em cada espécie explorada, variando local e regionalmente de acordo com a intensidade de caça e a capacidade de resiliência da espécie. Cerca de vinte anos após a proibição do comércio de peles no Brasil, a ariranha, espécie mais impactada pelo comércio internacional, começou a mostrar sinais de recuperação populacional. Este fenômeno despertou o interesse dos índios Baniwa do médio rio Içana, com quem realizamos esta pesquisa. Este estudo está dividido em dois capítulos nos quais investigamos: I) os fatores históricos que influenciaram a variação espaço-temporal da exploração comercial no alto rio Negro, assim como a resposta de duas espécies aparentadas, lontras neotropicais e ariranhas, frente a caça comercial na região e II) identificamos os locais de refúgio das ariranhas durante o período de extinção local no médio rio Içana e os elementos da paisagem que estão permitindo a recolonização da área pela espécie. No capítulo I reconstruímos a história oral dos Baniwa através de entrevistas semiestruturadas acerca da caça comercial realizada em seu território, identificando técnicas de caça, fatores políticos e econômicos que influenciaram as flutuações na atividade comercial e nas populações de lontras e ariranhas na região, em contraste com as características biológicas de ambas as espécies. Também sistematizamos dados provenientes de documentos de comercialização de peles nos portos da região para avaliar a capacidade de resiliência de ambas as espécies à caça comercial comparando a variação do montante de peles comercializadas durante o século XX no alto rio Negro. A união das diferentes fontes utilizadas nos mostrou que após quase um século de intensa caça comercial no alto rio Negro características intrínsecas das espécies assim como diferentes intensidades e técnicas de caça atuaram conjuntamente para a persistência das populações de lontras e para a extinção local e regional das populações de ariranhas, iniciando pelas áreas mais próximas à Manaus até atingir o médio rio Içana. No capítulo II investigamos as percepções Baniwa acerca das ariranhas através de entrevistas semiestruturadas com auxílio de mapas de referência para detectar as flutuações populacionais da espécie nos lagos e igarapés do médio rio Içana desde o início da atividade de caça comercial na região até os dias atuais. Realizamos amostragens nos lagos e igarapés em busca de sinais diretos e indiretos da ocorrência da espécie, registramos cinco variáveis de microhabitat in situ e obtivemos cinco variáveis de paisagem através de imagem de satélite. Medimos as variáveis de paisagem dependentes de escala em buffers de 250m, 500m e 1000m para testarmos qual escala é a mais adequada para o estudo do uso do habitat pelas ariranhas. Após calcular a frequência de indícios em cada unidade amostral nós geramos modelos lineares generalizados para testar as variáveis preditoras. O modelo com as variáveis dependentes de escala indicou um padrão bimodal, mas a escala de 250m foi a que apresentou maior efeito na ocorrência de ariranhas. As variáveis de paisagem disponibilidade de habitat, forma e isolamento do corpo hídrico explicaram 61,86% da frequência de ariranhas no médio rio Içana, enquanto a única variável de micro-habitat profundidade, correlacionada à hidrografia, explicou 38,12% dos casos. Para os Baniwa as ariranhas são os pajés das águas, e se distribuem pelo ambiente aquático juntamente com os peixes. Através dessa percepção indígena sobre as ariranhas nós obtivemos a movimentação da espécie em diferentes escalas temporais, e identificamos as cabeceiras dos longos igarapés como as áreas de refúgio da espécie durante o período de extinção local no médio rio Içana. A partir das informações ambientais e históricas nós identificamos os igarapés, bem drenados e conectados a corpos hídricos adjacentes como áreas favoráveis para a ocorrência de ariranhas no médio rio Içana. Nosso trabalho evidencia a valiosa contribuição do conhecimento ecológico tradicional em preencher lacunas no conhecimento sobre espécies ameaçadas que não poderiam ser obtidas somente através das pesquisas ecológicas convencionais, auxiliando a compreensão de processos ecológicos de longa duração com implicações para a conservação dessas espécies e do ecossistema que ela ocupa.

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